O vírus da zika é capaz de causar danos neurológicos não apenas no cérebro em formação de fetos, mas também no de adultos, aponta um estudo produzido por pesquisadores brasileiros e publicado nesta quinta-feira (5/9) no periódico Nature Communications.
O vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, foi responsável por cerca de 5 mil casos suspeitos de Síndrome Congênita do Zika no Brasil apenas entre 2015 e 2016, infectando células cerebrais ainda em desenvolvimento no útero materno e causando microcefalia em bebês. Mas, até há pouco, acreditava-se que os efeitos da infecção em adultos se limitassem a sintomas mais leves, como febre, dores musculares, erupção cutânea e dores de cabeça. Embora casos de danos neurológicos tenham sido identificados, o fenômeno e seus mecanismos foram pouco estudados.
Agora, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) confirmam que o vírus também consegue infectar – e se multiplicar em – cérebros adultos, atingindo neurônios mais maduros e provocando, em alguns casos, desde quadros temporários de confusão mental e dificuldade motora até problemas mais graves, de coma ou perda de memória.
Os pesquisadores ainda não sabem precisar qual a incidência desses problemas, ou seja, quantas pessoas infectadas pelo zika de fato podem ter prejuízos neurológicos, nem em qual proporção esses prejuízos são ou não permanentes. Por enquanto, acredita-se que os danos mais graves ocorram em uma minoria dos casos.
“Na maioria das vezes, o Zika causa aqueles sintomas leves que se resolvem logo, como a erupção cutânea”, explica à BBC News Brasil Claudia Pinto Figueiredo, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRJ e líder da pesquisa. “Mas em um número importante de casos – ainda não sabemos quantos, o que exigiria um estudo epidemiológico – o vírus causa complicações.”