Com o objetivo de remunerar milhares de famílias carentes e ao mesmo tempo reduzir o descarte irregular de toneladas de plástico, a empresa Plastic Bank implantou um novo modelo de comércio social no Haiti, uma das nações mais pobres do planeta, constante vítima de desastres naturais.
Agora, a renda com a reciclagem de garrafas e outros materiais plásticos pode ajudar a alimentar famílias inteiras que sofrem com a escassez, a renda precária e o desemprego em massa.
A ideia da Plastic Bank é simples: incentivar homens e mulheres desempregados a coletar lixo plástico em troca de renda e outros benefícios, como óleo de cozinha, alimentos, mensalidades escolares (para crianças) etc.
Após levarem o plástico para os centros de reciclagem da Plastic Bank, os catadores recebem o pagamento na mesma hora por meio de um aplicativo móvel chamado Blockchain, que garante maior segurança e transparência entre a empresa e os seus associados.
Os centros de reciclagem convertem o material plástico em paletes que são vendidos para marcas multinacionais, que reutilizam o plástico em embalagens que voltam para os supermercados. Nos últimos anos, a crescente demanda por paletes de plástico desse tipo expandiu bastante o potencial de mercado para os catadores.
Algumas empresas, como a gigante de tecnologia Dell, estão diretamente envolvidas no processo de coleta e conversão do material plástico reciclado. A empresa de computadores doou recentemente uma máquina que pode coletar 8 toneladas de plástico por ano das praias do Haiti, de acordo com a revista New Scientist.
Aqueles que administram os centros de reciclagem podem ganhar até US$ 3 mil (R$ 12,5 mil) líquidos por ano, após os descontos com pessoal e impostos – um aumento impressionante de renda em um país onde 2 em cada 3 pessoas vivem com menos de US$ 2 (R$ 8) por dia. A Plastic Bank também promove oficinas de empreendedorismo sobre educação financeira e contabilidade.
Até o momento, de acordo com a Forbes, mais de 30 centros de reciclagem foram estabelecidos em todo o Haiti, e mais de 3,5 mil pessoas estão envolvidas na coleta de plástico, o que ajuda a limpar os ambientes e os espaços públicos.
O Haiti, como muitos outros países do mundo, enfrenta sérios problemas envolvendo poluição. Isso é agravado pela falta de um sistema confiável de gestão de resíduos, segundo a ONU, que recentemente premiou o Plastic Bank com o prêmio Climate Solutions.
Segundo a ONU, é comum no Haiti queimar ou descartar o lixo em rios ou no mar. A queima de plástico libera toxinas prejudiciais aos seres humanos. Já quando o plástico entra nos cursos de água, os problemas são numerosos: os animais marinhos e as aves podem ingerir esses detritos e serem envenenados ou mortos; além disso, o plástico pode atuar como verdadeiros incubadores de mosquitos que espalham doenças mortais, como a dengue e a Chikungunya.
De acordo com a revista Borgen, cerca de 75% dos haitianos não possuem acesso à água potável, e uma enorme parcela da população recebe água contaminada em suas torneiras. A inexistência de estações de tratamento de água causou um surto de cólera no país logo depois do catastrófico terremoto de 2010.
A escala da poluição plástica em todo o mundo é assustadora. Estima-se que 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas em todo o mundo entre 1950 e 2015 – desse total, 75% foi descartado incorretamente.
Cerca de 8 milhões de toneladas métricas de plástico adentram nos oceanos a cada ano, o equivalente a esvaziar um caminhão de lixo a cada minuto. Se tal tendência permanecer, até 2050 existirão 12 bilhões de toneladas de resíduos plásticos descartados no mundo. Mais: o plástico marinho superará em peso bruto o número de peixes.
O Haiti está ajudando a mudar esse paradigma, segundo o Plastic Bank, mostrando que o lixo existente pode e deve ser reutilizado, sem a necessidade de produzir ainda mais detritos.
Além dos riscos mencionados acima, a produção em massa de mais produtos de origem plástica também é um motor da mudança climática. Isso porque 4% de todo o petróleo produzido anualmente é usado para fazer plástico, segundo a ONU, e uma quantidade similar é utilizada para gerar a energia necessária para os produtores desse material.
O plástico reciclado ajuda a quebrar esse ciclo, desencorajando empresas e consumidores a continuar consumindo e desperdiçando como se não houvesse amanhã.
Por fim, o Plastic Bank pretende expandir seu modelo para outros países que possuem sistemas insuficientes de gerenciamento de resíduos e altos índices de poluição desses detritos. Uma revolução silenciosa, mas efetiva, se inicia.