Você já recebeu alguma mensagem do seu banco dizendo que o seu cartão de crédito havia sido usado em uma compra que você não fez? Se não aconteceu contigo, é provável que você conheça alguém que já passou por isso. E essa probabilidade é alta, uma vez que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de fraudes no comércio virtual na América Latina, atrás apenas do México, segundo um levantamento feito pela Visa. Mas se isso acontecer, o que o consumidor deve fazer?
A fraude mais comum é a do “teste de cartão”, quando criminosos usam robôs para tentar “adivinhar” dados de cartões de crédito e usá-los em compras online. E foi isso que aconteceu com a agente de turismo Viviene Gaudard.
“Fui dormir e acordei com várias mensagens do aplicativo do banco com compras feitas no meu cartão, mas eu não havia feito nenhuma delas”, afirma. Ela entrou em contato com o banco por telefone e no mesmo dia os valores foram estornados. “Recebi a fatura algumas semanas depois já sem aquelas compras”, diz.
No ranking do Banco Central, as reclamações referentes a “irregularidades relativas a integridade, confiabilidade, segurança, sigilo ou legitimidade das operações e serviços” relacionadas a cartões de crédito” somaram 5.982 queixas em 2019, uma alta de 28,2% em relação ao registrado em 2018.
Em casos como o de Viviene, geralmente o prejuízo fica com o lojista. Adriana Umeda, diretora de risco da Visa, explica que às vezes o próprio banco ou fintech emissor do cartão percebe que a compra é “atípica” para aquele cliente e não aprova a transação. Porém, quando não há essa identificação por parte da instituição financeira, e a compra é autorizada, o lojista separa e envia aquele produto, portanto, a perda é dele.
“Quando há a contestação por parte do cliente, o banco emissor avisa ao credenciador (que é a empresa contratada pelo lojista para receber os pagamentos, como a Cielo, Rede, PagSeguro, etc). Esse credenciador, por sua vez, manda essa informação para o e-commerce para que ele já se antecipe em relação a essa perda que vai chegar lá na frente, em forma de débito”, explica Adriana. “Em alguns casos, toda essa comunicação é feita a tempo e o vendedor não envia aquele produto. Em outros, ele tem prejuízo”, completa.
A especialista explica que há a possibilidade de o e-commerce tentar reverter o prejuízo, mas nem sempre o trabalho compensa financeiramente. “O risco financeiro é do e-commerce. Quando o prejuízo é muito relevante, a loja pode montar dossiês, de maneira independente, com informações do momento da compra para que ele possa se defender quando for solicitado o estorno, mas nem sempre vale a pena”, afirma Adriana.
No caso do comprador, por outro lado, quando o emissor do cartão percebe compras atípicas ou quando aquela transação é contestada, o valor pode ser estornado. Mas há alguns cuidados que devem ser tomados.
“Uma das sugestões básicas é não perder de vista seu cartão, para não correr o risco de alguém copiar os dados e fazer compras em seu nome. Algo que seria interessante também é sempre checar a fatura, seja online ou física, e optar por receber alerta de transações, para você pedir estorno caso haja uma transação que você não fez”, afirma a especialista.
Outras modalidades de fraude
Além do teste de cartão, que gera as tais compras fraudadas na internet, existem também outras modalidades de golpes com os cartões.
Segundo o estudo da Visa, das transações fraudulentas mapeadas, 42% tiveram invasão de conta ou roubo de identidade. Esses casos são quando os fraudadores procuram informações de algumas pessoas específicas e vão atrás dos bancos se passando por esses correntistas.
“Com muita lábia, eles vão na central de atendimento, se fazem passar pelo dono daquele cartão e podem pedir coisas como uma segunda via do cartão ou um adicional”, afirma Adriana.
Outros 40% das transações fraudulentas são baseadas no envio de cupons, vale-descontos e reembolsos falsos. Nesses casos, podem ser enviados links em redes sociais ou aplicativos de trocas de mensagens que exigem um cadastro para que aquela pessoa seja contemplada com um brinde.
Há ainda a modalidade de “fraude amigável”, que afeta 28% das transações fraudulentas. Nesses casos, o próprio portador do cartão contesta uma compra que ele mesmo fez, como se fosse uma fraude, para receber o estorno.